Cinza by João Tamura

salva a vida contra o corpo,
onde durmo sobre o mundo nada existe daquilo que fomos.
quinze noites para Saturno e conto o dobro para a morte
sob o hábito do teu toque no qual moldo o meu sufoco.
fica com a razão toda.
enquanto eu ardo a tua boca quer que o coração morra.
brilhantes no papel enquanto amantes, atores, putas.
ser ou não ser a terra onde as tuas flores murcham?
saber a minha dor? foda-se...
quando ris, o trono volta-se. vives triste, amor nota-se.
pugnas ao luar - somente eu e Prometheus,
eu só vim cobrar tudo aquilo que Deus me prometeu.
e tu juras vir mais tarde,
seres capaz de me afogar e renascer em Asgard.
e eu de corpo inteiro aceito me afundar nos teus lugares
ou partilhar o espaço de um apartamento a pares.

e eu de corpo inteiro aceito me afundar nos teus lugares
ou sucumbir no espaço de um apartamento a pares.
e eu de peito inteiro aceito me afundar meio dos braços
onde teimo em encontrar algo que não existe mais.

noites em Budapeste:
quanto mais a leste melhor. tudo o que nos resta agora
é ver como a lua aparece e como a fome nos apodrece,
a cada peça que ela despe mais o corpo soa a tambor.
quem pior amamos nós?
na ânsia da partilha quando os dois estamos a sós?
Valquíria, quanto dói? és realeza, eu escrevo frases
enquanto desconstróis a minha tristeza por fases.
é doença ou paciência?
e a libido esbatendo as imensas diferenças
que temos um do outro - e nós a Sermos quando calha.
dois corpos sobrepostos tão no centro de Valhalla.
que essa elegia nos valha,
e tu Rainha cala a noite inteira além das balas.
minto e juro ser melhor, para além de nós correm estações,
os dois sobre colchões enquanto morrem as estações.

e eu de corpo inteiro aceito me afundar nos teus lugares
ou de sucumbir no espaço de um apartamento a pares.
e eu de peito inteiro aceito me afundar meio dos braços
onde teimo em encontrar algo que não existe mais.

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